quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um Adeus infinito

MAIO 22, 2010

Informação...

Alguns amigos, estranhando o silêncio, perguntam-me se morri. Não tenho passado bem, mas não morrri. Espero ressuscitar...

Mas não, não ressuscitou mesmo. E foram estas as últimas palavras escritas do meu AMIGO Ademar no seu abnoxio, onde só na véspera tinha percebido "por que Sócrates chegou a primeiro-ministro" e lá se conserva em banho-manel.

Foi o Ademar, ar de profeta e uma gargalhada irrepetível às vaidades e arroubos mundanos, uma figura incontornável da vida cívica e cultural bracarense das últimas décadas. E eu, tolhido do espanto de o sentir (sem mais) baixar à terra, ainda não acredito que perdi o meu sátiro de eleição, e a quem, querido amigo, aqui deixo... um Adeus infinito...

e memoro o teu último (e profético) poema publicado:

Improviso em resposta a um questionário íntimo...

1. Desmarquei todas as consultas
para não saber a data precisa da minha morte
2. e para não ter de renovar
o guarda-roupa
3. a cor das paredes ficou fantástica
não fora a cegueira das mãos
4. os manuais escolares os jornais e
as revistas velhas não couberam no papelão
5. as estantes da sala não celebraram ainda
o milagre da ressurreição
6. os brinquedos do quarto do espelho
continuam à espera de pilhas novas
7. as velas deixaram de contar
o fogo que as silenciou
8. e as flores que entretanto murcharam
também.

Ademar

20.05.2010