domingo, 1 de agosto de 2010

O Vale do Côa e os seus inimigos de estimação


O Museu do Côa, pese embora estar localizado no alto de uma colina, tem muito menos impacto que a abandonada barragem do Côa que, 15 anos depois ainda mostra estas feridas.



Há poucos meses atrás, alguém com uns litros de tinta em carteira, resolveu pichar em letrões garrafais, no próprio piso da estrada que conduz ao abandonado sítio da barragem, esta coisa:


Mais acima, no desvio de uma outra estrada da margem esquerda que conduz ao mesmo abandonado sítio, operários que colocavam então o novo tapete de alcatrão da Nacional 202 garatujavam com o mesmo tipo de tinta que aparecia nas próprias marcas dos seus trabalhos, estoutra coisa:
Inaugurado que está o novo Museu do Côa com o inevitável stresse mediático destes dias de zanguizarra, eis que surge ainda e sempre o inevitável coro de inimigos de estimação do Côa (sem esta malta nem o Museu tinha a mesma graça): que os arqueólogos insistem no erro de quererem fora de água e no seu ambiente arqueológico as ditas gravuras que parece já ninguém apreciar, que não percebem que a água é a coisa mais importante deste século, que falavam (quando éramos jovens e frescos?) em 200.000 visitantes (agora para arredondar já são 300.000) e só têm 20.000 em Foz Côa, que ninguém já hoje vai ao Côa, que o bando de paleolíticos soube enganar bem os governantes da altura (1995)... E parece que todas as outras barragens em construção de nada servem perante a grandeza da abandonada barragem do Côa sem a qual o país será um deserto a prazo! Enfim...
Claro que não se esperará desta gente um mínimo de atenção ou um olhar inteligente à Arte do Côa e ao seu Museu, uma interrogação que ficasse um pouquinho aquém da teoria da conspiração que a todos parece continuar a envolver.
E se o Museu e a anunciada Côa Parque - Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Côa que o governo agora anunciou e cuja falência a prazo (antes sequer de constituída!) começa já a ser anunciada em jornais, não fossem mais que o primeiro e retorcido passo para o retomar da construção da barragem do Côa? Há quem o murmure por aí, na expectativa de que a Unesco classifique Siega Verde e... desclassifique o Côa. Como o Eng. Mira Amaral que, como o outro, sabe que sim, só não sabe é quando. Isto de se ter um banco por trás dá-nos uma segurança na análise da estrutura e da conjuntura...!!!


Fotos: © AMB

2 comentários:

Pedro Bruma disse...

Se o museu tivesse sido feito 15 anos atrás no tempo, se hotéis tivessem sido construídos, se bons acessos tivessem sido realizados, as mensagens de revolta do povo (possivelmente) não existiam, pelo menos por forma de revolta, por se sentirem enganados... Será que dá para dar a volta à coisa, agora que o museu está em pé? :) como futuro arqueólogo, espero que sim. Cumprimentos,

Antonio Martinho Baptista disse...

Claro que sim. Temos que acreditar, pois o Museu do Côa é já hoje uma grande realidade regional e nacional. A sua construção é a prova de que querendo vamos lá!
Mas não te iludas com estas mensagens que são mais de gente instrumentalizada...
Abraço e força para o futuro. AMB