A mediatização dos achados do Côa levou a um recrudescimento dos estudos da arte rupestre em território português. Isso é bom! Mas também levou a uma degradação de muitos desses estudos. E isso é mau!
Consequentemente, et pour cause, a arte do Côa é a que mais sofre com este excesso de ruído. Que, contra as leis da física, não se comporta de acordo com os enunciados da segunda lei da termodinâmica. É ruído entrópico e basta.
Qualquer "investigador" de manual e pacotilha se sente autorizado a dar sentenças sobre os comos e os porquês da arte do Côa e da arte rupestre em geral. Simbólico por simbólico tudo serve para perorar. Não investigando de facto os originais, quais as fontes para tanta sentença que por'í circula? Pois nem mais nem menos que os textos, as imagens e as reflexões de quem realmente investiga! Que são cozidos e recozidos, trabalhados e adjectivados em pretensas e palavrosas teses. E o que é tanto ou mais grave, mal citados ou nem por isso! Se uns roçam o plágio, outros atiram-se mesmo ao dito, sem pejo e como verdadeiros piratas do alheio. E leio frases (conexas ou desconexas), conceitos mal assimilados e não citados, como se saídos do bestunto de tais luminárias arqueológicas.
Bem sei que os tempos são propícios a estas e tantas outras virtualidades. Que a disseminação da informática ajuda. Mas que também permite que rapidamente se pilhe o pilhador. Já experimentei, perante alguns desses palavrosos esforços inglórios, meter frases de textos meus no motor de busca do Google e daí chegar a textos mal paridos que nem sonhava que existissem! às vezes com problemas de tradução. Da vero!
Apesar de tudo, tanto ruído algum rasto vai deixando. E lá voltamos à famosa segunda lei da termodinâmica e suas entropias...
Trabalhei em tempos na área do ambiente com um responsável de um organismo público que tanto se enredava nas suas mentiras que a partir de certa altura as tomava autenticamente como verdades! E sei que assim será também com alguns dos autores de textos que por aí andam, senão como explicar o desaforo? Costumo consolar-me com a máxima de que o Doutor Freud explica tudo... e eu não tenho propensão para PSI.
Saberá esta gente como se estuda, descodifica e materializa um estudo de arte rupestre? Que começa pela descoberta e redescoberta, passa pelo lento e pausado namoro aos sítios, se prolonga por múltiplas interpretações (mira e remira, desenha e redesenha, fotografa e refotografa...) e se fixa num ou vários textos nunca verdadeiramente terminados? Quase 40 anos que levo disto e nunca me sinto satisfeito com um trabalho meu publicado. Por razões óbvias, imaginem quando encontro algumas desses namoros e reflexões (desenhos, fotos...) pilhados e mal citados? É da natureza humana. Como diria um amigo meu, há gente que não se enxerga!
Por norma abomino a arqueologia livresca em arte rupestre. E acabo a detestar todos quantos a praticam. Ainda para mais quando roçam o plágio assumido ou mal disfarçado. Conheço muito pouca gente que tenha namorado com qualquer das mais emblemáticas (ou não) rochas do Côa. Mas vou infelizmente conhecendo muitos que insistem em dissertar sobre elas.
Infelizmente a justiça portuguesa, mais lenta que o caracol em dias de cheia, parece ainda andar a espaços entretida com ameaças veladas às muito badaladas pilhagens de música digital e tarda em fazer jurisprudência sobre o saque de textos, fotos e tutti quanti. Tarda a chegar ao mundo da edição e das ideias a aplicação do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos (Decreto-Lei nº 63/85, de 14 de Março)!
Voltarei a isto.
Entretanto e com os meus agradecimentos a Morris (e ao Raul) pelo retrato, é para este estado desconchavado que me lançam as leituras de alguns dos mexericos que por aí vão sendo publicados sobre a arte do Côa e outras rupestrices...
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