sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vº Congresso de Arqueologia do Interior Norte e Centro de Portugal


Começo pelo cartaz, (mais) uma notável obra gráfica da estética depurada de Cristina Dordio, com quem troco cumplicidades artísticas desde os meus tempos da Peneda-Gerês e que não me canso de elogiar. Parabéns Cristina.

De 13 a 16 de Maio corrente, cruzando saberes vários entre Pinhel, Meda, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa, a arqueologia das Beiras (e não só) em revista. Numa organização (mais uma) do Parque Arqueológico do Vale do Côa, da ACDR de Freixo de Numão (com o impagável Sá Coixão, uma força viva do Portugal profundo) e da APDARC.

Que sítios rupestres abertos ao público ?

A postagem anterior sobre o crime arqueológico de Malhada Sorda, leva-me a deixar aqui uma outra nota sobre um debate que tem atravessado os últimos meses do Parque Arqueológico do Vale do Côa. E que é o da abertura (indiscriminada ou não) de sítios rupestres ao público, sem uma particular espécie de guardaria/e, ou visita guiada - que os tempos estão empobrecidos de capitais e números precisam-se!
Ora, os sítios abertos ao público no Côa são apenas três/quatro (Canada do Inferno, Penascosa e Ribeira de Piscos e a espaços o Fariseu) e nem tudo aqui se mostra por dificuldades várias e manifesta impossibilidade física (gravuras houve que tiveram mesmo que aprender a nadar), desde logo de muitos dos visitantes.
A integração em estudo de alguns sítios rupestres numa hipotética Rota da Arte Rupestre das Beiras sempre sofreu deste percalço. Como mostrar sítios deste tipo (e em particular estações rupestres com frágeis restos pictóricos), salvaguardando eventuais vandalismos que se podem tornar irreversíveis? Há exemplos vários colhidos nas mais diversas regiões do mundo, da Escandinávia à Austrália, onde variam as soluções: da vulgar visita orientada por um guia autorizado (o ideal), à visita sem guia local mas acompanhada por material impresso ou multimedia, à criação de barreiras psicológicas ou físicas, à vedação pura e simples de grutas e abrigos... tudo tem sido ensaiado. Mas uma razão a tudo isto deve presidir e foi isso que encontrei em várias regiões da Escandinávia: apostar no civismo e na cultura dos visitantes. Quem se predisponha a visitar sítios rupestres não deve ir até lá apenas por ouvir dizer, pois, a ser assim, o mais certo é sair dali defraudado. Será isto possível num país com as características de mentalidade e (in)cultura como Portugal? Não creio. Casos como o de Malhada Sorda e outros que aqui tenho denunciado demonstram isso mesmo.
No Côa, a abertura do futuro Museu trará um afluxo de visitantes num primeiro momento e para eles se prepara a abertura de alguns dos 55 sítios rupestres aqui já inventariados. Com muitos problemas à mistura, mas espero que longe da ditadura do facilitismo e do turismo sem maneiras. É bom estar atento.