segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais Museu do Côa

Esta manhã dominical de 22, aproveitando-se a borla e o voluntarismo de uns quantos, o Museu do Côa foi apreciado por 401 visitantes. Que ao final do dia tinham subido para 661.

Em menos de três semanas úteis (o museu encerra às 2ªas e abre das 9/17,30 h fechando à hora de almoço), ou seja entre 31 de Julho e 22 de Agosto, o total de visitantes atingiu a cifra de 7365, o que dá uma média de 368,25/visitantes dia.

Para quem achava que os assuntos do Côa, ao invés de um equívoco de políticas, eram um fiasco de públicos...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"O Paradigma Perdido..." livro do ano (2009) para a revista World Archaeology


A notícia já tem alguns meses, mas como nunca a arquivei aqui, pois aí vai para os mais distraídos. Entre os principais livros de arqueologia publicados no passado ano em todo o mundo, o meu livro mais recente sobre a Arte do Côa foi considerado pela World Archaeology (segundo a selecção de Paul Bahn) como um dos mais belos, considerando-se que a nossa equipa do Côa "é uma das mais importantes no mundo na elaboração dos registos de arte rupestre, como este livro demonstra admiravelmente". E o Museu do Côa aí está agora para o tentar continuar a demonstrar, acrescentarei...

Museu do Côa - 15 Agosto 2010


À atenção dos críticos de serviço.
Ao final do dia contabilizavam-se 619 visitantes registados só hoje! E duas reclamações, que já parece fazerem parte da ementa de cada dia: porque o museu fecha à hora d'almoço e porque encerra às 17,30 h. Pois é! Horário de funcionário público. Para já não dá para mais.
Ainda sem restaurante nem cafetaria. E sem publicidade que se veja. Só a do boca-a-boca e a do mediatismo da coisa. A arquitectura, ou se ama ou se detesta. Não há meio-termo. E os conteúdos, ainda transportando algum academismo, carecem das explicações que o voluntarismo do pessoal do Parque Arqueológico pacientemente vai debitando. E para já, o museu é um sucesso.
Os jornais têm falado numa média diária de 200 visitantes/dia no Museu do Côa desde a sua abertura a 30 de Julho. Não é verdade. Desta vez estamos a ser prejudicados pelos números, que estão acima de 300/dia, com o dia de hoje (ontem) a ultrapassar os 600 e com muita gente a voltar para trás porque chegam perto das horas de fecho.
Desculpem lá voltar outra vez a esta coisa dos números, mas estamos mesmo condenados a estas batalhas de algum simplismo matemático.




Fotos: © AMB

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Museu do Côa e os 300 mil.

O Museu está inaugurado e funciona. Na manhã do 5º dia de abertura atingiu-se o visitante-pagante nº 1000. A que se juntaram mais centena e meia até ao final do dia. E a que se devem acrescentar as centenas que durante o dia de inauguração circularam pelas suas salas (e não entram nas estatísticas). É um sucesso de público neste canto do país a que só as gravuras rupestres parecem lembrar que existe? Claro que sim. É para manter? Esperemos que sim. Mas claro que falta muita coisa, desde logo mais pessoal, pois se os que estavam no Parque Arqueológico já eram poucos para as encomendas (as tais dos 20 mil), pouquíssimos serão agora para mais esta pesadíssima responsabilidade.

Mas que interessa isso aos críticos de serviço, que continuam a apregoar como o grande labéu do Côa não termos conseguido trazer até às gravuras os tais duzentos ou trezentos mil/ano que alguém apregoou, parece que no fatídico 1998? Estaremos nós condenados a penar infinitamente este anúncio obsoleto mais do que José Sócrates as suas penúltimas e últimas promessas eleitorais de que já ninguém se vai lembrando?

Desculpem lá estas tretas de números, mas às vezes tem que ser...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vale do Côa para os mais distraídos

Não sei se já repararam, mas o Primiero-Ministro José Sócrates só se digna inaugurar (ou aparecer) em sítios de sucesso garantido. A sua presença, ainda que não previamente publicitada, na sexta-feira passada na inauguração do Museu do Côa, parece provar que esta... continua a ser uma história de sucesso... Político, pois claro, mas também arqueológico! E embora os arqueólogos pareçam cada vez mais arredados da coisa.

domingo, 1 de agosto de 2010

Siega Verde Património da Humanidade como extensão do Vale do Côa


Quase na mesma data em que se inaugurava o Museu do Côa, o sítio de Siega Verde, na margem esquerda do Águeda (um afluente do Douro junto à fronteira) é hoje elevado à dignidade de Património da Humanidade enquanto Extensão do Vale do Côa.
Esta vitória da perseverança é a todos os títulos notável e abre uma nova frente na vida que queremos renovada do próprio Vale do Côa, até pela gestão conjunta que se antevê e se deseja. Mas em primeiro lugar quero dar as minhas felicitações aos nossos amigos da Junta de Castela e Leão...

Até há poucos dias ainda podia ser visitada uma pequena exposição conjunta entre as artes rupestres do Côa e de Siega Verde, na antiga sede do Parque Arqueológico, cuja memória aqui deixo nesta imagem:


E aproveito para anunciar que ainda neste mês de Agosto será inaugurada uma nova exposição em Salamanca sobre a mesma matéria. Exposição que agora ganha um sabor renovado.

Mais recentemente, tive todo o prazer em coordenar e redigir com Javier Fernández Moreno este livrinho que acabou de sair de promoção desta candidatura agora vitoriosa:

A próxima etapa para quem aprecia e compreende verdadeiramente a arte paleolítica de ar livre (e não só a da bacia do Douro) é alargarmos esta classificação aos restantes sítios com arte paleolítica a céu aberto, como sejam (para já), em Portugal os de Mazouco, Fraga do Gato (junto à calçada de Alpajares), Pousadouro, Ribeira da Sardinha, Sampaio e Pedra Escrevida (estes quatro no Vale do Sabor), Poço do Caldeirão e Costalta (Vale do Zêzere) e cavalo isolado do Ocreza. A que há que juntar o notável e precioso sítio ainda inédito de Foz Tua. Porque constituem no seu conjunto uma formidável unidade estilística que demonstra o "génio criador dos primeiros povoadores" vinculado a uma vasto território interior peninsular. E são afinal o nosso primeiro (e magnífico) Império Artístico...

O Vale do Côa e os seus inimigos de estimação


O Museu do Côa, pese embora estar localizado no alto de uma colina, tem muito menos impacto que a abandonada barragem do Côa que, 15 anos depois ainda mostra estas feridas.



Há poucos meses atrás, alguém com uns litros de tinta em carteira, resolveu pichar em letrões garrafais, no próprio piso da estrada que conduz ao abandonado sítio da barragem, esta coisa:


Mais acima, no desvio de uma outra estrada da margem esquerda que conduz ao mesmo abandonado sítio, operários que colocavam então o novo tapete de alcatrão da Nacional 202 garatujavam com o mesmo tipo de tinta que aparecia nas próprias marcas dos seus trabalhos, estoutra coisa:
Inaugurado que está o novo Museu do Côa com o inevitável stresse mediático destes dias de zanguizarra, eis que surge ainda e sempre o inevitável coro de inimigos de estimação do Côa (sem esta malta nem o Museu tinha a mesma graça): que os arqueólogos insistem no erro de quererem fora de água e no seu ambiente arqueológico as ditas gravuras que parece já ninguém apreciar, que não percebem que a água é a coisa mais importante deste século, que falavam (quando éramos jovens e frescos?) em 200.000 visitantes (agora para arredondar já são 300.000) e só têm 20.000 em Foz Côa, que ninguém já hoje vai ao Côa, que o bando de paleolíticos soube enganar bem os governantes da altura (1995)... E parece que todas as outras barragens em construção de nada servem perante a grandeza da abandonada barragem do Côa sem a qual o país será um deserto a prazo! Enfim...
Claro que não se esperará desta gente um mínimo de atenção ou um olhar inteligente à Arte do Côa e ao seu Museu, uma interrogação que ficasse um pouquinho aquém da teoria da conspiração que a todos parece continuar a envolver.
E se o Museu e a anunciada Côa Parque - Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Côa que o governo agora anunciou e cuja falência a prazo (antes sequer de constituída!) começa já a ser anunciada em jornais, não fossem mais que o primeiro e retorcido passo para o retomar da construção da barragem do Côa? Há quem o murmure por aí, na expectativa de que a Unesco classifique Siega Verde e... desclassifique o Côa. Como o Eng. Mira Amaral que, como o outro, sabe que sim, só não sabe é quando. Isto de se ter um banco por trás dá-nos uma segurança na análise da estrutura e da conjuntura...!!!


Fotos: © AMB

sábado, 31 de julho de 2010

A Inauguração





Como me senti ontem na inauguração do Museu do Côa? Pois como um dador anónimo em banco de esperma!
Ausências mais notadas:
dos arquitectos autores do projecto de arquitectura;
dos coordenadores científicos do projecto de museologia (durante a visita oficial à exposição permanente)

Fotos: Joana Baptista

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Convite

Eu sei que em Portugal já não há touros de morte desde o século XVIII, mas !raios!, porque é que cortaram os cornos ao auroque?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Para a história do Museu do Côa. A Primeira Pedra (26 Jan. 2007)

O Museu do Côa será inaugurado no próximo dia 30 de Julho!
Uma inauguração que será presidida pela Ministra da Cultura. É um enorme desafio, o culminar de um projecto e o arranque de um tempo outro. Com altos-e-baixos, ritmos diferentes, coordenações e descoordenações... a verdade é que conseguimos erguer o Museu do Côa. E implantado que está, há agora que dar-lhe vida.
É este o meu Museu?! Pois claro que este é o meu Museu. Mas não é também o meu Museu, porque a insatisfação permanente deve marcar o ritmo do que aí vem.

A partir de uma aspiração começada a ser pensada com a classificação como Património da Humanidade da grande Arte do Côa em Dezembro de 1998, passaram-se 12 anos. Tanto e tão pouco tempo. Aos mais cépticos recordo que Altamira precisou de mais de um século para ver o seu museu concretizado. E a incomparável gruta Chauvet, fechada ao público desde a sua descoberta, precisamente na mesma altura da revelação da Arte do Côa (1994), não tem ainda qualquer museu, pese embora ter sido objecto de um conjunto de estudos exemplares (que continuam).

Para a memória desta obra monumental, que honra a região e o país, aqui deixo algumas imagens do dia do lançamento da primeira pedra, em 26 de Janeiro de 2007, em cerimónia presidida pela então Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima:

Maqueta do Museu do Côa

A equipa dos dois arquitectos projectistas, Camilo Rebelo e Tiago Pimentel, apresenta a maqueta aos responsáveis governamentais

A primeira pedra, um pequeno bloco de xisto, com o símbolo do Parque Arqueológico e o nome que seria depois abreviado apenas para Museu do Côa. Um trabalho do desenhador Fernando Barbosa, do então Centro Nacional de Arte Rupestre


E aspectos diversos do sepultamento da Primeira Pedra (e como o dia estava ventoso!):






Fotos: © AMB

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ícones da arte rupestre portuguesa

Esta é a mais icónica gravura paleolítica da arte do Vale do Côa (Chãs/Vila Nova de Foz Côa):



Esta é a mais icónica gravura neolítica da arte do Vale do Tejo (Nisa/Portalegre):




Esta é a mais icónica gravura do grupo português da arte do NW Peninsular (Bouça do Colado, Ponte da Barca, na Serra Amarela - Calcolítico/Antiga Idade do Bronze):



Três exemplos, não colhidos ao acaso e que em tempos estudei sem sufocos burocráticos, de algumas das preciosidades rupestres que se guardam em Portugal.
Mas entre a gravura "paleopolítica" do Vale do Côa (mal dos tempos), amplamente documentada e divulgada, e a mais escondida preciosidade de uma oferenda ritual neolítica de um veado morto do sítio de S.Simão, no Vale do Tejo (e por acaso fora da influência das águas da barragem do Fratel!, sendo portanto visitável) e o ainda quase desconhecido (embora publicado há 30 anos) e extraordinário painel da Bouça do Colado, uma das preciosidades arqueológicas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, quantos mundos paralelos prenhes de riqueza simbólica a convidar (ainda e sempre) à reflexão.
Reflexão que não se compadece com os extraordinários e acelerados tempos que vivemos. À beira de inaugurarmos o Museu do Côa que, pese embora as suas insuficiências, honrará os emblemáticos sítios do Vale do Côa. Onde tanto resta por fazer...
Portugal, um país rupestre!

Fotos e desenhos: © AMB

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um Adeus infinito

MAIO 22, 2010

Informação...

Alguns amigos, estranhando o silêncio, perguntam-me se morri. Não tenho passado bem, mas não morrri. Espero ressuscitar...

Mas não, não ressuscitou mesmo. E foram estas as últimas palavras escritas do meu AMIGO Ademar no seu abnoxio, onde só na véspera tinha percebido "por que Sócrates chegou a primeiro-ministro" e lá se conserva em banho-manel.

Foi o Ademar, ar de profeta e uma gargalhada irrepetível às vaidades e arroubos mundanos, uma figura incontornável da vida cívica e cultural bracarense das últimas décadas. E eu, tolhido do espanto de o sentir (sem mais) baixar à terra, ainda não acredito que perdi o meu sátiro de eleição, e a quem, querido amigo, aqui deixo... um Adeus infinito...

e memoro o teu último (e profético) poema publicado:

Improviso em resposta a um questionário íntimo...

1. Desmarquei todas as consultas
para não saber a data precisa da minha morte
2. e para não ter de renovar
o guarda-roupa
3. a cor das paredes ficou fantástica
não fora a cegueira das mãos
4. os manuais escolares os jornais e
as revistas velhas não couberam no papelão
5. as estantes da sala não celebraram ainda
o milagre da ressurreição
6. os brinquedos do quarto do espelho
continuam à espera de pilhas novas
7. as velas deixaram de contar
o fogo que as silenciou
8. e as flores que entretanto murcharam
também.

Ademar

20.05.2010