domingo, 13 de setembro de 2009

Novos livros:Arte Prehistorico al aire libre en el Sur de Europa. Actas

Recolhem-se nestas Actas (Ed. Rodrigo de Balbín), a maioria dos textos das conferências apresentadas no Curso titulado "Arte rupestre al aire libre: investigación, protección y difusión" que teve lugar entre 15 e 17 de Junho de 2006 em Salamanca, promovido pela Consejería de Cultura da Junta de Castilla y León, que também edita. Uma publicação que tardava e que agora surge finalmente, ainda que com data de edição de 2008.

É um grosso e rico volume de 500 páginas, que se constitui como a mais recente e documentada síntese em particular da arte paleolítica de ar livre peninsular, mas também com algumas reflexões sobre a arte esquemática e seus mundos paralelos.
Embora com alguma informação datada, como a dos inventários da arte do Côa entretanto já ampliados (e também já publicados), é no entanto uma obra de referência pela riqueza dos diversos contributos e pelas diferentes perspectivas de análise metodológica.
E neste particular gostaria de destacar o texto de Primitiva Bueno, Rodrigo de Balbín e Javier Alcolea sobre o "Estilo V" que pretende caracterizar o ciclo da arte da transição tardiglaciar Magdalenense/Epipaleolítico na bacia do Douro (Foz Côa e Siega Verde entre os sítios maiores), datável entre c. de 11 500 e 9 000 BP [destaque para a aproximação a estas datas das cronologias absolutas do nível 4 do Fariseu (Vale do Côa) e da sua arte móvel incisa sobre placas de xisto]. Uma importantíssima reflexão em aberto, independentemente de se concordar ou não com o epíteto de Estilo V, que remete desde logo para os 4 clássicos estilos de Leroi-Gourhan para a arte das grutas e que hoje perderam muita da sua actualidade. De qualquer forma, um debate para o qual a continuação do estudo da arte do Côa, em particular do seu "santuário 2", será determinante.
Um dos mais importantes painéis inserível neste horizonte de transição da arte paleolítica para o mundo esquemático é precisamente a rocha 16 do Vale de José Esteves, cuja réplica será exposta no Museu do Côa - já que o original só é verdadeiramente acessível a "iniciados".

Novos livros em arte paleolítica: Creswell Crags



Coordenado por Paul Bahn e Paul Pettitt, em edição da English Heritage 2009, foi há pouco publicada a esperada monografia das gravuras de Creswell Crags, quase todas incisas na pequena cavidade de Church Hole, o primeiro sítio com arte parietal plistocénica até agora descoberto nas Ilhas Britânicas (revelado em 2003). E não foi uma descoberta casual, mas antes um projecto pensado, conduzido e apoiado por autênticos especialistas em arte paleolítica, nomeadamente Michel Lorblanchet. Não havia de facto razão plausível para que a arte paleolítica não se tivesse expandido até às Ilhas Britânicas. E mais sítios aí aparecerão.

Após análises extremamente difíceis e minuciosas em paredes muito erodidas e irregulares, são identificados e agora publicados 25 motivos incisos, que os autores consideram como tendo morfologia glaciar (Magdalenense). E alertam para as dificuldades que tiveram de ser ultrapassadas neste tipo de levantamentos rupestres, considerando-se (e bem a nosso ver) que é preferível deixar de fora os casos duvidosos, do que publicarem-se desenhos erróneos que apenas irão introduzir ruído nos debates sobre as temáticas paleolíticas e as suas tabelas de dispersão. E nisto nos irmanamos, nesta necessidade de rigor na análise da arte rupestre - e não só na paleolítica.

O estudo de Creswell Crags é aliás exemplar pelo debate que originou sobre a metodologia dos levantamentos em arqueologia rupestre, concluindo-se que é fundamental o conhecimento pluridisciplinar muito aprofundado quer dos sítios em análise, quer da "maneira" de trabalhar (o estilo, a técnica, a forma de elaboração, o espírito do tempo...) dos próprios artistas. Tudo afinal o que sempre defendemos (e praticamos) no Vale do Côa.

A cultura nos debates

Saúde-se o regresso da política. Mas foi confrangedor assistir a esta cruzada maratona debatística entre candidatos e candidatos-presumíveis a primeiro-ministro que há pouco terminou nas televisões por entre os habituais (e quase imbatíveis) truques retóricos de José Sócrates e uma inenarrável Ferreira Leite sem chama, sem alma, sem programa... E sabem que mais? Não me lembro de ter ouvido uma vez que fora em quase 10 horas de conversas cronometradas, falar-se de uma qualquer ideia ou projecto(zinho) para a Cultura em um próximo quadriénio. Onde encaixa nisto o Museu do Côa?