domingo, 12 de outubro de 2008

Os mortos que mais rendem. Arte rupestre e capitalismo no Vale do Côa

No P2 do jornal Público de hoje e segundo o The Guardian, há uma curiosa lista estatística dos dez mortos que mais rendem neste mundo globalizado, e que aqui insiro:

O que me suscita a seguinte reflexão:
Porque rendem tanto estes mortos e tão pouco a herança dos nossos mortos paleolíticos e anexos?
Repare-se: tudo bebe da imagem, da "obra" e seus direitos, e da sua utilização numa "imensa panóplia" de tantas inutilidades, mas que o povão gosta!
Ora o Vale do Côa é já um objecto de desejo, primeiro ponto a ter em conta, e é a nossa melhor herança pré-histórica e uma mina por explorar a este nível, já que aqui até os bilhetes de entrada nos sítios continuam bonificados. E tudo continua objecto de uma espécie de "socialismo de estado", do trabalho mal pago aos direitos de imagem que não se cobram. 
Porque enquanto deixarmos descapitalizar, quer as nossas próprias imagens, quer as notáveis figurações rupestres que vamos captando em desenho ou fotografia, apenas conseguiremos entrar no ranking dos menos rentáveis, dos papalvos do sistema.
Existe uma lei de direitos de autor e direitos conexos em Portugal, mas é o próprio Estado que não lhe liga, perdendo de caminho um ror de dinheiros que parece ser hoje o que mais atormenta os estados e nos vai empobrecendo no dia-a-dia.
Se de início se pensava que a divulgação das imagens rupestres do Côa servia os propósitos de salvamento e divulgação dos sítios, há muito que essa etapa está ultrapassada. E são os governos que hoje nos incitam à imaginação a benefício da sobrevivência de empregos e manutenção do bem-estar (a tal coisa que o ministro Pinho decretou ter terminado!). 
Por quanto tempo mais vamos continuar a deixar banalizar as imagens do Côa sem o conveniente retorno, para utilizar a gíria dos economistas? Estou certo que se uma empresa privada iniciar um dia a exploração dos sítios e/ou do futuro Museu do Côa (nunca se sabe se lá chegaremos e talvez não venha longe o dia), logo esta situação se alterará... 
É que, da mesma forma que Elvis Presley, também o Côa "revolucionou tudo" no pequeno mundo da nossa arqueologia, mas também no grande universo da arte paleolítica. Mas há lições que tardam a ser levadas à prática. Mesmo em tempo de aguda crise.

1 comentário:

Anónimo disse...

Efectivamente muitos sites de arqueologia apresentam imagens em tamanho reduzido, que se podem pedir em resolução médio ou alta, pagando-se por cada imagem um valor determinado.