Na espécie de florida guerra das laranjas actualmente em curso entre algumas das nossas elites culturais do litoral, fruto da ausência de uma clara política cultural do governo Sócrates, os involuntários opositores a um novíssimo Museu dos Coches vão invocando, a seu benefício e para contraditar a ideia de que este atrairia cerca de um milhão de visitantes/ano (!!), uma pretensa boutade que já começa a cansar. A de que alguém (quem? quando? e em que circunstâncias?) teria afirmado que o novo Museu do Côa (este ou o anterior?) atrairia mais visitantes do que os empurrados para a Torre de Belém. A este propósito, deixem-me recordar as páginas que o Público de ontem, 29 de Março, dedicou a este tema (gostei particularmente dos mais de 7 milhões/ano de pastéis vendidos em Belém!), classificado já como "o caso do ano na Cultura", e em particular as palavras de Raquel Ferreira, da empresa turística Cityrama, sobre o porquê de serem os Coches o museu português mais visitado: "Num circuito turístico, o tempo tem que ser todo contabilizado para as pessoas conhecerem o máximo no menor tempo possível. Os Coches vêem-se em relativamente pouco tempo..." Isto na gestão desta empresa do circuito turístico de Belém, que inclui os Coches, os Jerónimos, o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Tudo, evidentemente, em turismo de pacote, que parece ser o que hoje conta. E factura!
Ora, se por um lado não me recordo de alguém ter invocado tal paralelismo musculado entre o Côa e a Torre de Belém (a que propósito? e em que pacote?), por outro, tal comparação só se justificaria se também o Museu do Côa estivesse a ser erguido na zona de Belém e não num dos confins do Douro, num concelho deprimido e despovoado, longe dos pacotes turísticos da capital! Até não será mau de todo que o Côa possa entrar nestas guerras de números, mas seria aconselhável que o fosse por outras e melhores razões. E, já agora, que esse abstruso paralelismo possa ser ou melhor esclarecido, ou então corrigido por quem abusivamente assim o invoca.
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