quarta-feira, 24 de junho de 2009

Manuela Ferreira Leite e o Vale do Côa

Ana Lourenço é uma excelente entrevistadora política da SIC-Notícias. Depois de, na passada semana, ter transmutado o animal feroz em manso cordeirinho (ou de PM a candidato a PM), esta noite a sua ternura (incisiva) trouxe ao de cima uma líder do maior partido da oposição no seu melhor (o que não é fácil). E no meio da argumentação política, ouviu-se - pela primeira vez que me conste - uma opinião de MFL sobre o Vale do Côa.
E qual seja essa opinião?
Pois para justificar que não é assim tão estranho que, caso o PSD chegue de novo ao poder, MFL vá parar para repensar as grandes obras públicas em trânsito, vulgo TGV, aeroporto de Alcochete, nova ponte sobre o Tejo e novas auto-estradas (infelizmente as novas barragens parece serem coisas adquiridas), já que o mesmo terá feito Guterres ao chegar a PM em 95, mandando suspender... a barragem de Foz Côa.
E Ferreira Leite acrescentava ainda, em abono deste miraculoso exemplo, que haveria para Foz Côa (leia-se as gravuras) outras "soluções culturais" que não terão sido tomadas em conta! Não disse quais, mas não será difícil imaginá-las, embora de culturais não tenham nada: que se tivessem cortado as pedras gravadas, como sugeria a EDP; que se tivessem feito réplicas de todos os painéis historiados (!!); ou que se tivessem metido e embalado os painéis paleolíticos no interior de redomas transparentes que seriam visitadas com a ajuda de pequenos mini-submarinos (parecia ser uma das soluções caras a Mira Amaral)!!!; ou ainda, pura e simplesmente, que se tivesse construído um museu e fazer por esquecer definitivamente o condenado vale - o verdadeiro museu!
Claro que tudo isto pressupõe um grande desconhecimento da realidade rupestre de Foz Côa (mais de 900 rochas historiadas e a ambiência paleolítica irremediavelmente escaqueirada!!), e... o amor-próprio que tarde ou cedo os povos acabarão por ter destas coisas "culturais" e de que há abundantes exemplos por essa Europa fora. Seja ele ou não auto-sustentado. Mas adiante.

Por outro lado, não foi feliz MFL ao comparar a paragem de um projecto como o da barragem de Foz Côa por óbvias razões culturais e de defesa dos sítios rupestres, mas também de prestígio internacional do país, com a suspensão das actuais e citadas grandes obras públicas por manifesta falta de sustentação financeira e de grande endividamento público, como parece também óbvio e nem os mais encarniçados apoiantes do governo em funções conseguem justificar.
Por este naco de entrevista ficámos assim a saber que provavelmente MFL, a ser um dia PM, poderá repensar o projecto da barragem do Côa que eventualmente poderá ser construída caso a consolidação orçamental um dia destes, por milagre dos deuses (que não os pré-históricos), possa ser atingida.
Não duvido que MFL possa chegar a PM de Portugal, tantos são os erros cometidos por este governo - não é a oposição que ganha eleições, são os governos que as perdem, relembram constantemente os analistas. Mas desejo sinceramente que nesse hipotético dia possa estar melhor informada sobre o caso Côa e o não misture nesta trapalhada em que se transformou o debate sobre a famosa consolidação orçamental tão cara a todos os políticos respeitáveis. Ou não fossem eles os principais responsáveis pelo enorme buraco negro em que todos continuamos mergulhados. Pese enorme os colossais fluxos financeiros que desde há mais de 20 anos a União Europeia para aqui foi canalizando...

Sem comentários: