sábado, 20 de junho de 2009

Museu do Côa 01





A última vez que passei no aeroporto Sá Carneiro foi há uns meses atrás e para meter a minha filha num avião para Londres (onde já vive há seis anos), com a recomendação expressa de que não pensasse tão cedo em reinstalar-se neste país inchado de medíocres togados e com outros tantos à espreita de ajuramentação. Bom, parece que um idiota qualquer de Foz Côa me terá visto há coisa de 15 dias a enfiar-me aí, eu próprio, meio à socapa, num avião para Paris a expensas e na companhia de gente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa!! E para quê? Pois para ajudar a tomar de assalto o Museu do Côa! Ao qual estou ligado desde o primeiro minuto e do qual sou responsável por uma boa parte do seu programa museológico... Estranho... Para o que me havia de dar!!

Pois parece que o Museu do Côa é agora objecto da agiotagem eleitoral em que o país se vai entretendo, enquanto as contas públicas derrapam para um buraco negro de efeitos imprevisíveis e os políticos nacionais e locais se ofendem na praça pública tachando-se uns e outros de incompetentes, mentirosos, rapaces e por'í fora!

No microcosmos de Vila Nova de Foz Côa há uns blogs anónimos onde a malta se deleita, acobardados no anonimato e na impunidade antidemocrática que a Net vai permitindo, em ofenderem a gestão instalada da respectiva Câmara Municipal e quantos com ela se cruzam. E o Museu do Côa, obra pública nacional que muito nos custou a instalar nos arredores da cidade, é agora, e desde já, tema eleitoral.

Mão amiga fez-me chegar a informação sobre uma dessas anónimas postagens em que pela primeira vez desde que aqui me instalei (vai para 13 anos, mas isto é nada para quem cá nasceu ontem...), apareço agregado a um pacote de indígenas que se propõe ajudar o actual Presidente da Câmara, cuja amizade prezo mas por isso mesmo não me coíbo de lealmente afrontar, nunca sob anonimato, sempre que a Arte do Côa esteja em causa, a "tomar de assalto" o Museu do Côa! Passando-o de uma previsível gestão pública, sob o controle do governo central, para uma suposta gestão camarária (pública ou semi-pública), quer através da própria Câmara Municipal, quer através da Associação de Municípios do Vale do Côa.

Ora, se assim o pensasse e nunca ninguém me pediu opinião sobre a matéria (males da não-regionalização), não precisava de me esconder para o defender. Pelo contrário, o Museu do Côa, que se deveria antes passar já a chamar Museu Nacional do Côa, não poderá estar sujeito à contingência das guerrilhas políticas locais e de imponderáveis eleitorais. E daqui alerto todos os fozcoenses bem-intencionados e não-acobardados, do que penso e já o disse ao próprio Presidente da Câmara (conheço demasiado bem todo o processo), é que o Estado central, empurrado pela força das circunstâncias e pela impenitência dos tempos, poderá ser tentado a breve prazo a aligeirar o que considerará o maior "elefante branco" herdado da era Guterres e que é... o Parque Arqueológico e o Museu do Côa! Coisa que evidentemente não será fácil de vender.

Mas nada disto está decidido - que se saiba. E pela prosaica razão de que... não há dinheiro para brincadeiras gestionárias. E as eleições estão à porta. E o futuro é imprevisível (como os independentes).

O Museu do Côa é uma excelente obra de arquitectura (bebida na escola da land-architecture, segundo influência reconhecida pelos seus próprios arquitectos) que se propõe explicar ao visitante interessado o que é isso da Arte do Côa, que muitos mal enxergam e quase todos não entendem. Como tal foi objecto de um programa museológico que se pretendeu pragmaticamente científico, ainda que a museografia vá deixar muito a desejar. Também isso fruto dos tempos. Mas está concebido como um museu aberto, onde a investigação e os novos programas museográficos poderão sempre fazer e refazer.

O que não me passa pela cabeça é que, passada mais de uma década nesta terra onde sempre fui muito bem recebido, apareça agora um idiota anónimo a tentar injectar-me numa qualquer conspiraçãozeca de interior que, quanto mais não fosse, poderia destruir rapidamente as expectativas criadas dentro e fora do país sobre a cúpula de todo o projecto que engendrámos para a defesa da grande Arte do Côa. A próxima etapa seria começar-se já a campanha para a construção da velha-nova barragem de Foz Côa. A troco sabe-se lá de quê... talvez de um mecenato da EDP que suportasse os elevados custos de manutenção e programação do Museu do Côa!

Fotos: © AMB

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