domingo, 13 de julho de 2008

Ainda Miguel Sousa Tavares e o Vale do Côa


O justo coro de indignação (e de aclamados quanto insensatos apoios!) que a coluna de opinião de MST no Expresso de 5 de Julho corrente sobre o Vale do Côa gerou entre a comunidade de arqueólogos e não só, opiniões que podem ser seguidas nomeadamente na lista de discussão do Archport, leva-me a deixar aqui hoje para memória de quem não conhece, não se lembra ou já se esqueceu, a "famosa" primeira página de "O Independente" de 7 de Julho de 1995,  jornal entretanto falido e extinto, mas então dirigido por Paulo Portas em plenos tempos de brasa de demolição do cavaquismo.
É esta afinal a reconhecidamente única fonte de informação sobre a Arte do Côa que MST invoca, nomeadamente na sua tréplica ao desforço de Manuel Maria Carrilho ontem publicado em carta ao Expresso e na sua coluna de opinião semanal do Diário de Notícias. Nada que não tivesse já intuído quando sugeri que MST fala e escreve muito "por ouvir dizer"!
Sabe-se qual foi a posição do Independente durante a polémica do ano de 1995 sobre o Côa, um dos únicos jornais portugueses claramente ao lado do lóbi barragista (para quem não saiba, os jornais do tempo não se limitaram a informar, tomaram efectivamente posição!) e a quem foram passados os relatórios de Bednarik e Watchman para a EDP, antes sequer de serem conhecidos e contraditados pelo grupo de arqueólogos que então começava a investigar a Arte do Côa.
Recordo-me muito bem particularmente desse dia, pois tinha ido expressamente a Lisboa para participar num debate sobre a problemática do Côa no Instituto Superior Técnico com engenheiros de barragens. E não esqueço o tremendo impacto que teve o Independente desse 7 de Julho (era um jornal de combate à direita, que se comprava para se saber qual era o escândalo da semana!) que levámos meses e anos a contraditar, em particular junto de decisores políticos governamentais. Que já após o anúncio do fim da barragem e da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa ainda me perguntavam, quase a medo, se a Arte do Côa era seguramente tão antiga como dizíamos.
Como se vê, a força de uma bem feita quão distorcida 1ª página que surja no momento certo, e que no caso tomava como fundo os geniais e incompreendidos cavalos da R. 1 de Piscos, vai muito para além do próprio tempo de vida do jornal em que aparece. Mas se agora disserem a MST que a sua fonte primária é o Paulo Portas, ele não deve achar lá muita piada ao caso! 

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Senhor que tão belo blog iniciou - e que merece felicitações veementes - ao ver as gravuras que aqui vai transcrevendo algumas considerações seriam apropriadas sobre a recepção da obra de arte. Na linha de um comentário postado no blog,
há quem seja apenas sensível ao valor monetário da "obra". Picasso é grande porque vale milhões. Miguel não presta porque (ainda) não vale milhões. X é razoável porque vale assim-assim. Os caminhos de Deus são ínvios e um dia as gravuras do Côa, valendo muito, serão apreciadas por quem hoje as denigre. E haverá pedidos de perdão, que está na moda.
Mas, em países pequeninos e de saúde delicada, as birras podem fazer lei e matar de fúria descabelada as poucas galinhas de ovos de ouro. Pode crer que Y detesta as gravuras só porque W as aprecia, ou porque foi Z que as descobriu ou as valorizou. Espere-se pelo Tempo e pelos ínvios caminhos da divindade. Ámen.
B. Bentes.

Anónimo disse...

Não podia, meu caro António, deixar de te citar.

http://abnoxio.weblog.com.pt/arquivo/2008/07/miguel_sousa_tavares_foz_coa_e

Um grande abraço!