Quinta-feira, 10 de Julho de 2008
"Independência energética"
É imperioso mudar de paradigma energético, substituindo ao máximo os combustíveis em favor da energia eléctrica gerada por fontes renováveis, até para defender a independência energética do País.
Só que a maior parte da energia eléctrica continua a ter origem termoeléctrica, queimando carvão (que importamos e cujo preço também está subir rapidamente) ou gás natural (que também é importado e cujo preço tende a acompanhar o preço do petróleo). Por isso, para além da exploração das energias eólica e solar -- que têm as limitações que têm, desde logo nos custos --, cabe saber se não se justifica reequacionar o tabu da energia nuclear, bem como recuperar importantes projectos hidroelétricos que foram postos de lado por razões discutíveis, como o caso de Foz-Côa.
Quando os combustíveis atingirem os 200 dólares, a situação de emergência energética não poupará tabus nem preconceitos.
Aditamento
A propósito: «UE-27: Portugal é o sexto mais dependente na energia».
[Publicado por Vital Moreira] [10.7.08] [Permanent Link]
Carta Aberta ao Doutor Vital Moreira
Caro Doutor Vital Moreira
Depois de ler esta sua prosa e embora tenha opiniões, que penso fundamentadas (como todo o português que se preza e se considere minimamente letrado e informado) sobre o nosso problema energético, não é sobre este que agora não resisto a interpela-lo.
Não quero também agora referir-me ao citado tabu da energia nuclear. Mas não posso deixar passar em claro o facto de pensar que o abandono do projecto hodroeléctrico de Foz Côa o foi "por razões discutíveis"! Até porque este pensamento aflora epidermicamente em alguns dos seus escritos de intervenção pública. O que demonstra que esta história continua para si muito mal digerida (mal compreendida?). Aceito que ponha à frente da defesa do património histórico-arqueológico a construção de mais uma barragem (isso é um problema da consciência de cada um numa sociedade democraticamente organizada), mas não posso aceitar que continue a pensar serem discutíveis as razões que levaram um governo do Partido Socialista a optar pela sua defesa a benefício das "razões discutíveis" de mais uma barragem! Já em finais de 95, aquando da tomada da decisão política, havia mais que razões técnicas e científicas a suportarem os custos e os porquês dessa decisão. Elas só se afirmaram ainda mais nos anos que desde então passaram. E o modelo de defesa do património rupestre que aqui desenvolvemos, com a criação de um Parque Arqueológico e de um Centro Nacional de Arte Rupestre (lamentavelmente extinto pelo actual PRACE), tem sido exemplificado como um dos melhores que foi criado no mundo cultivado para situações similares. E digo isto porque sobre ele tenho feito conferências um pouco por todo o mundo e sei como somos recebidos pelos nossos pares. E de como o exemplo português é elogiado pelo facto sem paralelo de não se ter continuado em Foz Côa a construção de uma grande barragem. Mas também isto demonstrará a força da sociedade civil. E de como os tempos são voláteis.
Pese embora, para mal dos pecados de todos os que trabalham em Foz Côa e dos que para aqui se exilaram voluntariamente como eu, a politização que desde sempre sofreu o caso Côa, como é possível que um ilustre jurista não procure informar-se melhor sobre a real valia arqueológica da Arte do Côa e de qual a razão da sua tão rápida classificação pela Unesco como Património da Humanidade. Se amanhã, conhecendo criteriosamente o que é a Arte do Côa e o seu contexto e me disser, sem mais, que prefere que sobre ela pouse uma barragem, então nada mais terei a dizer-lhe. Mas assim, como releva do seu escrito... custa-me a compreender.
Pelo apreço que tenho por si, lamento profundamente que esta sua opinião, no momento em que escreve, acabe por entrar no ror de crispações de ilustres quanto azedos e também mal informados colunistas que agora, aproveitando-se da crise energética mundial e da tal crise que, apesar de tudo, os nossos governantes teimam em minimizar, insistam em considerar uma das mais sábias decisões de um governo nacional em prol do nosso património arqueológico mais arcaico, como um erro fruto dos tempos! Diga-me: se amanhã um qualquer gabinete ministerial considerasse necessário derrubar a Universidade de Coimbra para sobre esse espaço passar uma qualquer das nossas tão indispensáveis quão discutíveis auto-estradas, qual seria a sua reacção? Em Foz Côa a construção da barragem seria infinitamente mais gravosa! E eu estaria entre os primeiros defensores da Universidade.
Com os meus cumprimentos
António Martinho Baptista
Vila Nova de Foz Côa
"Independência energética"
É imperioso mudar de paradigma energético, substituindo ao máximo os combustíveis em favor da energia eléctrica gerada por fontes renováveis, até para defender a independência energética do País.
Só que a maior parte da energia eléctrica continua a ter origem termoeléctrica, queimando carvão (que importamos e cujo preço também está subir rapidamente) ou gás natural (que também é importado e cujo preço tende a acompanhar o preço do petróleo). Por isso, para além da exploração das energias eólica e solar -- que têm as limitações que têm, desde logo nos custos --, cabe saber se não se justifica reequacionar o tabu da energia nuclear, bem como recuperar importantes projectos hidroelétricos que foram postos de lado por razões discutíveis, como o caso de Foz-Côa.
Quando os combustíveis atingirem os 200 dólares, a situação de emergência energética não poupará tabus nem preconceitos.
Aditamento
A propósito: «UE-27: Portugal é o sexto mais dependente na energia».
[Publicado por Vital Moreira] [10.7.08] [Permanent Link]
Carta Aberta ao Doutor Vital Moreira
Caro Doutor Vital Moreira
Depois de ler esta sua prosa e embora tenha opiniões, que penso fundamentadas (como todo o português que se preza e se considere minimamente letrado e informado) sobre o nosso problema energético, não é sobre este que agora não resisto a interpela-lo.
Não quero também agora referir-me ao citado tabu da energia nuclear. Mas não posso deixar passar em claro o facto de pensar que o abandono do projecto hodroeléctrico de Foz Côa o foi "por razões discutíveis"! Até porque este pensamento aflora epidermicamente em alguns dos seus escritos de intervenção pública. O que demonstra que esta história continua para si muito mal digerida (mal compreendida?). Aceito que ponha à frente da defesa do património histórico-arqueológico a construção de mais uma barragem (isso é um problema da consciência de cada um numa sociedade democraticamente organizada), mas não posso aceitar que continue a pensar serem discutíveis as razões que levaram um governo do Partido Socialista a optar pela sua defesa a benefício das "razões discutíveis" de mais uma barragem! Já em finais de 95, aquando da tomada da decisão política, havia mais que razões técnicas e científicas a suportarem os custos e os porquês dessa decisão. Elas só se afirmaram ainda mais nos anos que desde então passaram. E o modelo de defesa do património rupestre que aqui desenvolvemos, com a criação de um Parque Arqueológico e de um Centro Nacional de Arte Rupestre (lamentavelmente extinto pelo actual PRACE), tem sido exemplificado como um dos melhores que foi criado no mundo cultivado para situações similares. E digo isto porque sobre ele tenho feito conferências um pouco por todo o mundo e sei como somos recebidos pelos nossos pares. E de como o exemplo português é elogiado pelo facto sem paralelo de não se ter continuado em Foz Côa a construção de uma grande barragem. Mas também isto demonstrará a força da sociedade civil. E de como os tempos são voláteis.
Pese embora, para mal dos pecados de todos os que trabalham em Foz Côa e dos que para aqui se exilaram voluntariamente como eu, a politização que desde sempre sofreu o caso Côa, como é possível que um ilustre jurista não procure informar-se melhor sobre a real valia arqueológica da Arte do Côa e de qual a razão da sua tão rápida classificação pela Unesco como Património da Humanidade. Se amanhã, conhecendo criteriosamente o que é a Arte do Côa e o seu contexto e me disser, sem mais, que prefere que sobre ela pouse uma barragem, então nada mais terei a dizer-lhe. Mas assim, como releva do seu escrito... custa-me a compreender.
Pelo apreço que tenho por si, lamento profundamente que esta sua opinião, no momento em que escreve, acabe por entrar no ror de crispações de ilustres quanto azedos e também mal informados colunistas que agora, aproveitando-se da crise energética mundial e da tal crise que, apesar de tudo, os nossos governantes teimam em minimizar, insistam em considerar uma das mais sábias decisões de um governo nacional em prol do nosso património arqueológico mais arcaico, como um erro fruto dos tempos! Diga-me: se amanhã um qualquer gabinete ministerial considerasse necessário derrubar a Universidade de Coimbra para sobre esse espaço passar uma qualquer das nossas tão indispensáveis quão discutíveis auto-estradas, qual seria a sua reacção? Em Foz Côa a construção da barragem seria infinitamente mais gravosa! E eu estaria entre os primeiros defensores da Universidade.
Com os meus cumprimentos
António Martinho Baptista
Vila Nova de Foz Côa
2 comentários:
Será que o Dr. Vital Moreira não responde? É de supor que Os Lugares de Encanto - Ria de Baiona, Galiza - publicados hoje no Causa Nossa não sejam a resposta... Mas, quem sabe? Que isto da política em baixa torna-se coisa retorcida como o diabo. De facto é muita água o que lá se vê... será alusão subliminar às belezas inefáveis das barragens? Talvez sim, talvez não. Um dia saberemos.
A.Alves
A Universidade de Coimbra ainda não foi a baixo, mas já esteve mais longe. A coisa (as demolições) começou na Alta de Coimbra há umas décadas para criar espaço para as faculdades, mas eram outros tempos, e, agora, é uma parte importante da Baixa da cidade que está a ser destruída, para, em nome do progresso e da mobilidade dos cidadãos (há lá coisa mais importante que os cidadãos poderem mexer-se para onde quiserem, de preferência de metro!)o camartelo demolir alegremente uma parte do tecido urbano de origem medieval da cidade, e que cidade, a Lusa Atenas, a cidade do saber, a cidade que se prepara, pasme-se, para candidatar a sua Universidade, a sua Alta, a Ptrimónio da Humanidade da UNESCO, etc., etc. Se não fosse triste, seria risível, um caso de barbárie ilustrada!
Portanto, caro António, não te admires se, quando for necessário ao desenvolvimento e à mobilidade e, seja lá ao que for, a Universidade de Coimbra venha a baixo...
RA
P.S.: Avisa o Vital Moreira, que não sei se ele já se deu conta do risco!
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