sábado, 26 de julho de 2008

Engenheiros à solta, ou o fantasma de Foz Côa

Quatro engenheiros na Sic-Notícias, no Expresso da Meia Noite de hoje, debatem os problemas da actualidade energética em Portugal, com particular incidência na introdução ou não do nuclear entre nós. 
Com mais ou menos fantasmas, números para todos os gostos, com mais ou menos energias renováveis à mistura, lá aflora o "desastre" mal digerido de Foz Côa, seja ele puxado pelo inevitável Mira Amaral, seja pela palavra do douto bastonário da Ordem, entre o indignado e o indisposto. E o preclaro moderador ousou sugerir, como que a medo, que afinal quem venha hoje a Foz Côa aqui pode ainda observar os restos de uma barragem que ninguém ousou por enquanto destruir. Como que a dizer que... é só repegar! 
E logo o douto bastonário não perdeu o pé para sugerir de imediato que o "desastre" foi de tal ordem, que o país parece ter perdido durante 13 anos (tal foi a pancada) a vontade de fazer mais barragens, perdendo de um folgo técnicos que se reformaram e capacidade e iniciativa na matéria. Afinal o lago monumental do Alqueva não foi feito depois do abandono de Foz Côa??!! Se bem me lembro acho que foi inaugurado nos inícios do milénio por um Guterres em fim de ciclo. Só faltava agora ser também Foz Côa a responsável pelo declínio da famosa escola portuguesa de engenheiros de barragens! Claro que o afã programático do renovado plano de barragens, ainda há pouco relançado com pompa e circunstância pelo actual governo, se encarregou já de tudo isto desmentir.

Por entre os números da imparável carestia energética e o consequente refrear do crescimento económico, cada um clama por sua dama. Onde, apesar de tudo, mais me agradou ouvir o argumentário escorreito da mancha esquerda da mesa (et pour cause), do que o solilóquio à direita. 
Mas ninguém contrapõe a estes ilustres engenheiros de diversa patente, outros números, talvez mais lúcidos e com dividendos seguramente melhor distribuídos, que são os do crescimento sustentável do"negócio" do PATRIMÓNIO, que parece tardar em virar moda em Portugal!!??E de que Foz Côa foi apenas um primeiro e tímido passo!? E uma matéria-prima em que o país é ainda tão rico!?  
Claro que isto nada tem a ver com o custo do Kw, a propósito do qual e das suas incidências há sempre uma maneira de dar a volta ao discurso! Impondo-o desde logo como o factor essencial do crescimento sustentado da nação! 

Ora, perante o frentismo acutilante e renovado dos construtores de barragens, eólicas ou centrais a carvão ou nucleares, é urgente que construamos nós um verdadeiro lóbi do património, porque nos recusamos a ser cada vez mais condenados à desmemória e à ditadura do Kw. E se sem lóbi de qualquer espécie se evitou o desastre que seria a construção da barragem do Côa, que força não teriam ainda mais os nossos argumentos se também eles fossem mais maduramente apoiados no tal crescimento sustentado do "negócio" do património para onde a globalização, quer nos ponhamos ou não a jeito, teima em empurrar-nos!

1 comentário:

Anónimo disse...

É verdade o que é dito no post sobre o que foi possível para defender as gravuras (que dão sempre um toque de virilidade a MST) do Côa à época. Mas também é verdade que à época a direcção do PS (e os seus Governos) tinham ainda alguma gente que entendia o papel da Cultura no mundo e não se tinha passado de armas e bagagens para o lado dos "negócios" à portuguesa - velhos como a pimenta da Índia, medíocres como o país profundo que está a emergir da crise, em quase tudo idêntico ao antigo adversário que se vê grego para se distinguir. De modo que outras têm de ser as formas para a defesa do que interessa. Com o PS é difícil contar. Triste, mas é preciso encarar os factos de frente e saber superá-los.
F.Figueiredo