sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Álbum histórico do Vale do Tejo 01

Um registo fotográfico é sempre passado. Mas à medida que o tempo flui e a pátina se instala e se adensa, o nosso tempo, o tempo do eu, como que cristaliza. É um pouco isso o que descobrimos nas imagens antigas de palcos onde também nós fomos actores... o nosso tempo cristalizado!

De entre a volumosa massa documental que as equipas de arqueologia produziram durante as campanhas de salvamento da Arte do Tejo, há alguma iconografia do EU que todos fomos. Não há, infelizmente, muitas imagens de equipa. Até porque na altura não disponhamos de muitas máquinas fotográficas! Longe do digital e dos telemóveis com objectivas para instantâneos, de muitos de nós poucos registos restaram desse já quase "dreamtime".

Mas algo sobrou e do que guardo nos meus arquivos, alguma coisa aqui irei revelando. Na sua maioria são imagens inéditas de pausas no duríssimo trabalho que íamos realizando, sempre com tremenda paixão. Porque não havia outra forma de trabalhar sobre os quentíssimos xistos taganos. Como logo na altura escrevi, o trabalho arqueológico no Vale do Tejo dos anos 70, foi sempre um misto de paixão e festa (também assim comecei no Côa, mas as gravuras, de paleolíticas breve se tornaram paleopolíticas... o que, apesar de tudo, não impede a obsessão pelo seu estudo, tal é o vigor deste ciclo artístico sem paralelo entre nós!).

Vale do Tejo, anos 70: da emoção da descoberta à aplicação pensada dos métodos de registo em arte rupestre que ali estávamos a inventar. Na altura, só o registo fotográfico era feito à noite (rapidamente abandonámos as fotos diurnas das rochas gravadas), já que ao invés do desenho de campo optáramos pelas moldagens em látex (fiz mais de mil no Tejo!). E ainda recordo bem a vívida emoção com que observámos, durante uma visita de Emmanuel Anati ao Tejo em meados dos anos 70, a primeira experimentação do seu método de visualização bicromático (excelente em xistos) que tarde chegou ao nosso conhecimento e que depois me encarreguei de levar para o Norte de Portugal e que desenvolvi para a sua utilização em granitos na Arte do NW. Hoje este método foi abandonado, na expectativa da revolução dos novos métodos de datação directa que tardam em sair do experimentalismo e tão maus resultados deram no Vale do Côa, já que também aqui foram mais métodos de datação política que outra coisa!!!

São pois algumas dessas imagens taganas, em especial dos anos 70, que hoje aqui apresento. E que elas sirvam, mais uma vez, também como uma homenagem ao meu infausto amigo Jorge Pinho Monteiro (autor de algumas delas) que a morte tão cedo ceifou, no que considero como uma das maiores tragédias para a arte rupestre portuguesa! A ele se deve muito do rigor na metodologia do registo que foi utilizado no Vale do Tejo e que desde então foi sempre apanágio de todos os meus trabalhos e que procuro transmitir a quantos comigo têm procurado aprender e partilhar algo mais.
 
Eduardo da Cunha Serrão, Emmanuel Anati e Francisco de Sande Lemos em Fratel (meados dos anos 70).
Foto: Jorge Pinho Monteiro ?

João Ludgero, Jorge Pinho Monteiro, Helena Afonso, Francisco de Sande Lemos, um estudante não identificado, António Carlos Silva, AMB, Rui Parreira, Vítor Serrão e Teresa Marques. O núcleo duro da "geração do Tejo". Esperando o comboio para Fratel (saía-se a meio do percurso com o comboio em andamento, tal era a lentidão da marcha!) numa manhã de Abril de 1973.

AMB, João Ludgero, António Carlos Silva e Jorge Pinho Monteiro. Pausa na pensão do Ródão. 1973. 
Foto: autor não identificado

O meu muito querido amigo Eduardo da Cunha Serrão, em finais dos anos 70 em S. Simão (Nisa), durante o nosso último trabalho de campo, quatro anos após o enchimento da barragem de Fratel.
Foto: AMB

Helena Afonso, AMB, Teresa Marques e um colega espanhol a quem perdi o rasto. Em fundo Maria de los Angeles Querol, Jorge Pinho Monteiro e João Ludgero. Vila Velha de Ródão, verão de 1973.
Foto: autor não identificado

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